“Estava escrita pela letra de Barbosa, um cursivo feio, muito legível.
Lenita leu:
O trem ia partir.
Ela estava na plataforma da estação da luz, com o marido, em bota-fora de não sei quem. Olhou-me, eu a olhei; ela baixou os olhos, uns grandes olhos verdes;corou. O braço esquerdo estava passado no do marido, enfastiadamente, aborrecidamente; o direito, em abandono, pendia-lhe ao longe do corpo...A mão estava sem luva, era pequenina, bem feita, tinha no anular uma marquesa de muito brilho. Levantou os olhos, encarou-me, tornou a baixá-los, avançou o pé direito, um pezinho adorável, bateu com ele freneticamente, como se estivesse muito contrariada. O marido disse-lhe o que quer que foi em alemão, ela respondeu-lhe na mesma língua. Sairam, eu seguí-os. Tomaram o bonde que vinha de Santa Cecília(...)
Tornei a vê-la. Era no Grande Hotel: ela estava jantando, à mesa do centro. Dava-me as costas. Recostava-se na cadeira, pendendo o corpo para a esquerda, a perna direita passada sobre a esquerda, agitava-se com um movimento sacudido, nervoso. O pé muito pequeno, estreitado numa meia de seda carmesim, recurvando-se, descalçava em parte o sapatinho Clark, mostrava o calcanhar redondo, diminuto, delicioso...A aragem que entrava pelas janelas altas agitava-lhe os crespinhos dourados da nuca. Levantou-se, rodando para a esquerda, com o busto curvado, em um movimento gracioso, que pôs em relevo a exuberância dos seios a avultarem reprimidos no corpete retesado, em contraste provocador com a exigüidade da cintura.”
(Texto extraído do livro ‘A CARNE’ de Julio Ribeiro)
Lenita leu:
O trem ia partir.
Ela estava na plataforma da estação da luz, com o marido, em bota-fora de não sei quem. Olhou-me, eu a olhei; ela baixou os olhos, uns grandes olhos verdes;corou. O braço esquerdo estava passado no do marido, enfastiadamente, aborrecidamente; o direito, em abandono, pendia-lhe ao longe do corpo...A mão estava sem luva, era pequenina, bem feita, tinha no anular uma marquesa de muito brilho. Levantou os olhos, encarou-me, tornou a baixá-los, avançou o pé direito, um pezinho adorável, bateu com ele freneticamente, como se estivesse muito contrariada. O marido disse-lhe o que quer que foi em alemão, ela respondeu-lhe na mesma língua. Sairam, eu seguí-os. Tomaram o bonde que vinha de Santa Cecília(...)
Tornei a vê-la. Era no Grande Hotel: ela estava jantando, à mesa do centro. Dava-me as costas. Recostava-se na cadeira, pendendo o corpo para a esquerda, a perna direita passada sobre a esquerda, agitava-se com um movimento sacudido, nervoso. O pé muito pequeno, estreitado numa meia de seda carmesim, recurvando-se, descalçava em parte o sapatinho Clark, mostrava o calcanhar redondo, diminuto, delicioso...A aragem que entrava pelas janelas altas agitava-lhe os crespinhos dourados da nuca. Levantou-se, rodando para a esquerda, com o busto curvado, em um movimento gracioso, que pôs em relevo a exuberância dos seios a avultarem reprimidos no corpete retesado, em contraste provocador com a exigüidade da cintura.”
(Texto extraído do livro ‘A CARNE’ de Julio Ribeiro)
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